A tecnologia e a inovação são palavras-chave de qualquer setor industrial, sendo tanto mais relevantes quando há uma repetição no processo produtivo.
O setor da construção não tem conseguido avanços tão significativos na produtividade e na industrialização como outras áreas, o que se justifica, entre outros fatores, por se tratar de uma indústria que, de uma forma geral, produz “protótipos”, sempre materializados em locais diferentes e muitas vezes transformando edifícios existentes como é o caso da reabilitação. No entanto, a industrialização do setor da construção tem tido alguns progressos e constitui uma via para dar resposta não só ao problema da atratividade dos trabalhadores, como também para a introdução de maior inovação, tecnologia avançada e aumento da produtividade.
A industrialização exige que a abordagem ao nível do projeto passe pela conceção de sistemas construtivos que integrem componentes industrializados, compatíveis, disponíveis num “catálogo” aberto em que a flexibilidade é crucial. Por outro lado, na execução da obra será necessário que o processo de montagem mesmo que não robotizado seja mecanizado. Uma abordagem industrializada do setor da construção nunca poderá ser verdadeiramente concretizada sem um maior detalhe e pormenorização, complementada pela formação especializada dos atores em obra.
A inovação e a investigação estão intimamente ligadas, constituindo a industrialização uma enorme janela de oportunidades para a ligação das empresas à universidade, numa visão de verdadeira criação de modelos de negócio. Contudo, para uma mudança de paradigma, isto é, para uma verdadeira industrialização do setor da construção é imprescindível escala, mas também flexibilidade para dar resposta às necessidades específicas dos utilizadores.
A industrialização e a prefabricação permitirão também uma redução do prazo das obras, o que tem significativos impactos económicos, nomeadamente: no custo do dinheiro entre o início da ideia até a possibilidade de utilização do edifício; nas taxas que são relevantes inerentes à duração da construção e no impacto da perturbação na cidade do ato de construir. Também não é desprezível o benefício na facilidade do controlo de qualidade.
A digitalização crescente, que é um dos grandes desígnios europeus, é mais um fator positivo no caminho da maior industrialização da construção. O projeto tem percorrido de forma paulatina esse caminho. A obra, embora a um ritmo diferente, também o tem feito. O salto seguinte é a robotização do processo construtivo, em que já há experiências concretas como é o caso da impressão 3D utilizando argamassa/betões, com características específicas.
Na construção não se atingirá o nível de industrialização e automação da indústria automóvel, em que são fornecidos todos os componentes à linha de montagem, os robôs fazem a conexão dos componentes e finalmente os trabalhadores altamente preparados o controlo e operações muito específicas. Claro que produzir centenas de milhares de unidades iguais do mesmo modelo automóvel não é igual a produzir edifícios quase “protótipos”, mas é minha profunda convicção que a robotização vai chegar à construção, sobretudo à construção nova, se a modelação e a compatibilidade dimensional passar a ser uma das grandes preocupações do mercado.
O mundo enfrenta enormes desafios (demografia, mudanças climáticas, custo e escassez da energia e transição energética) o que vai conduzir a relevantes mudanças. Os edifícios não vão ficar imunes a essas mudanças. Há sempre vantagens e riscos na mudança, mas deve-se procurar uma abordagem industrializada que atenda à durabilidade das soluções e à possibilidade de contemplar a sustentabilidade ambiental e a análise do ciclo de vida das opções consideradas.
Um outro desafio ao qual a industrialização tem de responder é o desejo de um design inovador, em permanente mudança, em que a forma poderá tender para algo orgânico. A resposta passa por produzir de forma flexível.
Os desafios que vivemos podem constituir uma oportunidade, que seguramente nos obrigarão a ser mais interventivos e a colocar todos os talentos que dispomos no esforço de adaptação à transformação, sem esquecer o necessário realismo económico e os permanentes desejos de inovação e diversidade que caracteriza a nossa sociedade.