Num mundo de mudanças aceleradas e realinhamentos geopolíticos, Portugal tem a oportunidade de se afirmar como uma nova centralidade global. O mercado imobiliário comercial pode ser um dos grandes beneficiários desse reposicionamento, desde que o país continue a investir em infraestruturas, inovação e sustentabilidade. A atração de capital estrangeiro, aliada a políticas estratégicas e visão de longo prazo, pode colocar Portugal num dos principais destinos de investimento imobiliário na Europa.
De acordo com os últimos dados publicados pela “EY Attractiveness Survey – Portugal”, de setembro de 2024, Portugal mantem-se no Top 10 da Europa, em termos de atração de projetos de investimento direto estrangeiro (IDE), através de novos projetos e expansão dos aqui instalados, em setores como Software, Serviços de TI, Business Services e Professional Services, Indústria e Turismo.
Também de acordo com dados do Banco de Portugal em 2024, as transações de IDE totalizaram 13,2 mil milhões de euros (11,1 mil milhões em 2023), devido sobretudo ao investimento realizado no capital de entidades portuguesas (11,1 mil milhões de euros). As transações de IDE refletem também um contributo significativo do investimento imobiliário, no valor de 3,5 mil milhões de euros. A grande maioria deste investimento é realizado por entidades estabelecidas na Europa, aparecendo a Espanha, o Reino Unido e França, como principal origem, havendo ainda outros países que servem de intermediários e países que utilizam outros mercados como veículos para investir em Portugal, muitas vezes por razões fiscais.
O posicionamento estratégico de Portugal na interseção de diferentes mercados e blocos econômicos coloca o país numa posição favorável para atrair investimentos não apenas da Europa, mas de outras origens, como dos Estados Unidos, do Canadá, do Brasil, Médio Oriente e outros mercados emergentes, firmando a sua posição como interlocutor privilegiado entre a Europa, América Latina e África.
Portugal surge neste contexto como um destino atrativo para centros logísticos, hubs tecnológicos aliado à transformação digital e a adoção do trabalho à distância que impacta na procura por escritórios e espaços comerciais, aumentando a procura por áreas flexíveis, sustentáveis e tecnologicamente avançadas, algo que Portugal tem conseguido oferecer, aliado às preocupações com as questões da sustentabilidade e a soluções de eficiência energética, apresentando-se como um destino privilegiado para investidores comprometidos com a transição ecológica.
Na decisão de investimento os aspetos ligados à atratividade dos custos no imobiliário são um ponto fulcral a par da disponibilidade de talento e o acesso a infraestruturas rodoviárias, portos e logísticas, que não podem ser descurados.
Neste contexto é fulcral, construir o novo aeroporto, completar a linha de comboio de alta velocidade Porto-Lisboa e Porto-Vigo, com a ligação ao aeroporto Francisco Sá Carneiro. O Norte de Portugal e a Galiza concentram uma população de 6,4 milhões de habitantes, em que o Porto e o seu aeroporto deve posicionar-se como uma âncora para este território. A par da relevância demográfica é também fundamental estimular nesta região a colaboração científica aplicada entre a Universidade do Porto, Braga, Aveiro, Trás-os-Montes e Alto Douro, Santiago de Compostela, Corunha e Vigo, aproveitando a ligação ao tecido empresarial desta região.
Como também é essencial a concretização do Corredor Internacional Sul ligando os portos de Sines, Lisboa e Setúbal a Espanha por via-férrea e em autoestrada.
Neste esforço de posicionamento neste novo enquadramento global é preciso melhorarmos a capacidade de concretização destes projetos ao mesmo tempo que reduzir a burocracia que entrava a concretização dos mesmos.
Uma nota final sobre o papel do AICEP que, constatamos na nossa experiência profissional, no dia a dia, e confirmamos, o seu papel decisivo na promoção, deteção e acompanhamento de projetos de investimentos, num contexto de grande competição mundial.