Nos últimos anos, aumentou extraordinariamente o número de turistas que visitam Portugal. De forma direta, essa evolução está refletida na Balança de Pagamentos. De acordo com dados do Banco de Portugal, o valor anual das exportações de “viagens e turismo” passou de 7,6 mM€, em 2010, para 25,4 mM€, em 2023, estimando-se que, em 2024, o valor seja superior a 27 mM€. Durante todo este período, o crescimento foi contínuo, exceto em 2020, devido à pandemia.
Retomando os dados acima referidos, em 2010 as exportações de “viagens e turismo” representavam 4,2% do PIB. Esse valor foi continuamente aumentando e, em 2023, atingia já 9,5% do PIB. Claro que o impacto do turismo sobre a atividade económica vai muito para além do contributo direto das exportações para o PIB. Um impacto indireto respeita à atividade económica imobiliária induzida, a que acresce o efeito multiplicador que resulta do crescimento das exportações de turismo e da produção de imobiliário.
Até à crise financeira e económica global de 2008-09, o peso das exportações de bens e serviços no PIB português manteve-se relativamente modesto. Em 2010, as exportações representavam 30% do PIB e, antes disso, cifravam-se abaixo dessa fasquia. Desde então, a importância relativa das exportações foi crescendo e, em 2023, representavam 47,3%. O crescimento das exportações de turismo insere-se, pois, num movimento de aumento generalizado das exportações portuguesas, dando finalmente resposta a défices crónicos da balança corrente – uma das razões que conduziram ao pedido de ajuda externa em 2011. Em 2023, as exportações de turismo representavam cerca de 20% do total das exportações, o que correspondia, conforme referido, a cerca de 9,5% do PIB.
O que é de esperar da evolução das exportações portuguesas de serviços de turismo? Para um horizonte temporal mais curto, não é de esperar alterações significativas face à evolução mais recente, a menos que algum fenómeno extremo e disruptivo ocorra. De facto, em termos conjunturais, a determinante mais relevante para os fluxos de turismo será a evolução do poder de compra per capita dos visitantes, o qual é determinado pela situação macroeconómica nos países emissores. A este respeito, o que podemos constatar é que a evolução das exportações portuguesas de turismo nos últimos anos apenas registou uma quebra em 2009 (ressalvando o ano da pandemia – 2020), ano em que ocorreu a última grande recessão global. Tratou-se, contudo, de uma situação extrema, em que, a generalidade dos países registou taxas de crescimento negativas. Uma tal situação de recessão global não é expectável que ocorra proximamente.
Já quando se projeta a evolução das exportações de serviços de turismo para um horizonte temporal mais alargado, as considerações são diferentes. O crescimento geral das exportações portuguesas de bens e serviços, iniciado a partir de 2010, começou por ser impulsionado pela reação do lado da oferta à enorme quebra de procura registada no mercado interno durante o período de ajustamento económico. No caso particular do turismo, o país tinha um conjunto de fatores estruturais e vantagens comparativas que estavam por explorar e foram determinantes para a desempenho observado, como sejam, a segurança, a estabilidade social, o nível de preços, as infraestruturas, o clima, o domínio de línguas, a hospitalidade, a gastronomia, a beleza da paisagem, a oferta recreativa e cultural, boas ligações aéreas com o exterior, facilidade de mobilidade
interna, qualidade ambiental, etc. Por sua vez, a capacidade hoteleira e afim foi-se, naturalmente, ajustando ao aumento da procura.
Como os fatores estruturais continuam presentes, é expectável/desejável que o número de turistas que visitam Portugal continue a aumentar indefinidamente? Não! Qualquer economia tem um conjunto de recursos limitados, a começar pela dimensão da população. Continuar a aumentar a “produção” de turismo (por via da quantidade) levanta várias questões, nomeadamente: (i) implicaria afetar mais recursos humanos a uma atividade com valor acrescentado médio relativamente reduzido, o que, evidentemente, implica remunerações do trabalho relativamente baixas. Essa não é a solução para que o PIB per capita do país convirja para o PIB per capita médio da União Europeia. Até agora, o desempenho observado tem sido possível graças, em parte, à importação de mão, mas esta não é uma solução sustentável; (ii) a experiência de alguns países mostra que a massificação do turismo pode afetar drasticamente a qualidade de vida dos residentes e fazer com que o custo para as populações locais se torne superior ao benefício; (iii) não observar o princípio geral de “não colocar todos os ovos no mesmo cesto” pode ser muito arriscado. Pense-se, por exemplo, nas implicações económicas a que fica sujeito um país excessivamente especializado na exportação de turismo se, por qualquer razão, deixa de haver confiança no transporte aéreo.