Dia 31 de Outubro, Dia Mundial da Poupança. Quando falamos em poupança temos de falar nas suas aplicações, porque dinheiro debaixo do colchão nem sequer o garante. Basta olhar para as cheias de Espanha. Ou pensar em roubos, incêndios ou outras calamidades. Por isso, vamos pensar em modos de concentrar a poupança. Relembre-se que a poupança, para a maioria das pessoas, significou sacrifício, ausência de consumo ou diminuição de bem-estar no presente, na esperança de um acréscimo de consumo ou bem-estar futuro.
Uma das mais populares formas de aplicação da poupança é a que se consubstancia em bens imóveis. De acordo com dados do setor, em 2021 e 2022 transacionaram-se em Portugal, respetivamente, €30.000 e €31.800 milhões em bens imóveis. Para percebermos o que isso representa, basta comparar com os €171.900 milhões de dezembro de 2021 e os €182.400 milhões de dezembro de 2022 que as famílias e o setor social tinham em depósitos junto dos intermediários financeiros.
Muitas das transações do mercado imobiliário não representam nem se equiparam diretamente a depósitos, pois muitas são realizadas para usufruto do bem (como se pudéssemos “comprar” um depósito para nos sentarmos sobre ele a assistir a um programa de televisão...). Mas, mesmo assim, e tendo em conta a depreciação que o tempo lhe provoca, mesmo sem utilização, a compra de um bem imóvel para usufruto do seu proprietário como primeira ou segunda habitação, ou até para exploração comercial, não deixa de ter uma componente de “consumo” e outra de investimento. Basta pensar que depois de utilizado, o bem imóvel ao ser vendido para benefício do próprio ou de herdeiros, representa a poupança do investidor em final de vida.
Por estas razões, o investimento imobiliário deve ser socialmente apreciado e acarinhado. O investimento imobiliário é um investimento nobre que liga quem está a poupar a uma necessidade básica do ser humano. Como ainda ontem ouvi a um polémico autarca, Isaltino Morais, a habitação é a base do cidadão, da família e da sociedade. Sem habitação não há educação dos jovens, não há saúde, nem segurança pública. E eu acrescento que a casa é o património que muda a consciência do cidadão sobre a propriedade e que, com o rendimento do trabalho, muda a perceção da relação do cidadão com o Estado: este que o defende, protege e que lhe providencia meios (ou não) em troca de um pagamento através de impostos que são o seu “preço”.
Por isso, quando vejo, jovens inexperientes a liderarem com estes temas, sem qualquer experiência de vida e que, ao ascenderem a ministros de uma pasta tão importante como a da habitação, como foi o caso da última titular, Dr.ª Mariana Gonçalves, fico arrepiado. Infelizmente, os arrepios que tive, deram lugar a suores frios quando se instalou o terror com a aprovação da Lei da Habitação de 2023. Havia algumas ideias boas nessa lei, mas a ausência de discussão e a arrogância com que a mesma foi apresentada e aprovada sem ser apoiada por uma larga maioria do parlamento, baseada em escolhas ideológicas que, afinal, uns meses depois se mostraram incompatíveis com a nova representação parlamentar, mostram como a “ideologia do povo” não passa de uma fantasia na cabeça de alguns. Esperemos que a nova secretária de Estado da Habitação não caia na tentação oposta...
Por isso, necessitamos urgentemente de rever este tema, baseando as decisões num campo negociado e de amplo acordo entre os grandes partidos parlamentares, embora dentro do campo da razoabilidade e da noção de que estamos e queremos estar numa economia de mercado em que o setor privado é solução e parceiro e não composto por um bando de malfeitores, capitalistas pançudos e ociosos.
Para podermos continuar a contar com o mercado imobiliário como uma fonte socialmente nobre de canalização da poupança.