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EDITORIAL

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José Crespo de Carvalho
José Crespo de Carvalho
Professor Catedrático, Presidente ISCTE Executive Education

PORTUGAL COMO CENTRO DA NOVA “ROTA DA SEDA”

São várias as linhas que uso para pensar o Turismo. Sem estigmas. Sem enganos. Precisamos do Turismo para a economia do país. O resto, bom, o resto é poesia.

Ao contrário do que certas mentes iluminadas pensam, o Turismo requer uma abordagem integrada e segmentada e uma oferta de ano inteiro, deixando de uma vez de oferecer tudo igual para todos. Abaixo, deixo um conjunto de 8 pontos que me parecem cruciais. Onde o imobiliário, claro está, terá sempre um papel fundamental.

Começo pelo meu ponto 1) Assumir o Turismo como grande atividade nacional: devemos contrariar, mesmo combater, a ideia de que uma economia baseada no Turismo é uma economia fraca. Não é se o Turismo for bem pensado e bem feito. Agora, o desígnio a curto prazo é, para mim, colocar o Turismo, lato senso, nos 20% do PIB. E esse objetivo deve ser um objetivo nacional. De forma sustentável e recorrente. E sem medos.

2) Pensar em como o turismo pode e deve fazer ponte para outras dimensões económicas importantes deve constituir-se em pensamento e ação concomitante com o objetivo anterior. O Turismo leva-nos a outras dimensões que muitas vezes descuramos: uma boa experiência em Portugal pode trazer Investimento Direto Estrangeiro (IDE) e pessoas que aqui queiram residir. Para fidelizar e fazer deste um destino recorrente, devemos alavancar com várias ofertas complementares, em jeito de up e cross-selling. O vinho, o calçado, a horto-fruticultura, os objetos de cortiça e derivados, o vestuário, o couro, a cerâmica, o mobiliário e os objetos decorativos (vindos das nossas raízes culturais e artesanato) serão aqui uma complementaridade fundamental.

Com o ponto número 3) Contribuir para a dessazonalização do Turismo, aproveitando bem a Primavera e o Outono e as nossas belezas de Inverno. Ninguém ficará indiferente ao crepitar das lareiras, aos enchidos e queijos, aos magníficos vinhos e oferta gastronómica e à nossa cerâmica, ao calçado e vestuário, aos objetos decorativos. Dizer que há 6 meses no ano em que não há Turismo é não querer apostar na sua dessazonalização. A vindima é em Setembro. A rota da Castanha é em Outubro. O Douro vinhateiro sobe-se todo o ano, os milhares de quilómetros de praias têm enorme potencial de Inverno, o Alentejo tem uma rara beleza na época fria e o Algarve um clima ameno todo o ano. E não podemos esquecer que muitos eventos, festivais e summits deveriam posicionar-se precisamente no Inverno.

Temos de 4) Clusterizar o turismo e estratificar. Diz-se por aí que não queremos “turismo de pé descalço”. Eu diria que não queremos só “turismo de pé descalço”. Por isso temos de clusterizar. Aproveitar zonas referenciais no Algarve, da costa à serra, capitalizar a costa do Alentejo, perceber o potencial dos circuitos kosher, dos contornos mouros e de tantos outros segmentos é uma obrigação para com os maiores emissores (nórdicos e anglo-saxónicos), mas também para com tantos outros povos que não trabalhamos bem como Israel a muitos segmentos árabes a quem podemos oferecer reminiscências de um passado com significado histórico.

5) Cuidar do(s) Territórios é para mim fundamental. Preservar, qualificar protegendo o que ainda temos de bom. E que é ainda muito. Se abastardarmos tudo, deixamos a história e perdemos a beleza do edificado embebido na paisagem. E é precisamente isso que faz também diferenças e cria sensações únicas.

6) Oferecer uma cultura de acolhimento que, de resto, é natural. Mas onde devemos trabalhar porque sem serviço (que não é o mesmo que ser servil) não seremos hospitaleiros. Temos de continuar genuína e culturalmente hospitaleiros e abertos ao mundo. Isso é parte da nossa essência multicultural. E deve ser ensinado e perpetuado como raiz cultural.

7) Fortalecer a segurança para que a atividade seja estável em todas as suas dimensões e para que quem venha possa disfrutar de Portugal sem problemas de maior e usufruir do que é nosso e também um pouco seu.

Finalmente, devemos impulsionar tudo o que possa 8) Promover o acolhimento universitário. Muitos dos estudantes internacionais apaixonam-se por Portugal e voltam como investidores e/ou como residentes. Para além do bom ensino que lhes proporcionamos eles ficam desde cedo a saber um aspeto fundamental que muitos dos nossos concorrentes não têm: aqui fala-se inglês.

Porque Portugal é o ponto central de uma nova “Rota da Seda”

 

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