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EDITORIAL

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Manuel Puerta da Costa
Manuel Puerta da Costa
Conselho Editorial da Ci

Mais vale tarde do que nunca...

O mercado imobiliário em Portugal enfrenta desafios importantes no futuro mais próximo. São desafios relacionados com uma diversidade de fatores em simultâneo, entre eles, a evolução das taxas de juro de longo prazo e de curto prazo, com as implicações de uma guerra devastadora a decorrer na Ucrânia e com a implementação de directivas e regulações que a Agenda Verde da Comissão Europeia . As três questões referidas não exaurem o conjunto de desafios que enfrenta o sector , mas a sua interconexão não pode ser menosprezada para melhor perspectivar o que esperar dos próximos anos neste sector. Cada um deles é matéria suficiente para um análise mais detalhada que não cabe no âmbito deste texto.

A agenda da política monetária dos Bancos Centrais, nomeadamente do BCE, reactiva a uma subida que se afigurou bem mais gravosa do que o antecipado no comportamento da taxa de inflação, sofreu uma alteração substancial nos últimos meses reconhecendo-se a necessidade de subida das taxas de juro de referência, que vinha a ser referida como pouco necessária por quem acreditava no carácter passageiro da inflação. Tal circunstância trará custos acrescidos de financiamento (de curto prazo) às empresas, ainda que com um sector financeiro mais robusto, teremos também um comportamento melhor dos agregados macroeconómicos e do crédito que permitem suportar estes choques que poderiam ser mais negativos noutro enquadramento. Mais vale tarde do que nunca por parte dos Bancos Centrais.

No domínio Geopolítico não convém fazer muitas previsões sobre a duração ou os vencedores do que se está a passar na Europa. Há, no entanto, algo que convém não esquecer sobre o que se iniciou no dia 24 de fevereiro de 2022: Lisboa é a capital europeia que se encontra mais longe de Moscovo, o que coloca o nosso país numa posição privilegiada para a relocalização de centenas de negócios que receiam a destruição e a insegurança que esta guerra trouxe. Empresas multinacionais de serviços e de tecnologia em especial, que querem atrair talento têm agora ainda mais razões para se localizarem em Portugal, para além das que já existiam anteriormente.

E este novo influxo, depois do que aconteceu com a Primavera Árabe, no domínio do turismo, é um enorme desafio para o Mercado de “commercial real estate”, pois com as necessidades de investimento derivadas de novas regulações ambientais teremos uma tripla força impulsionadora do crescimento  nominal e real do sector de desenvolvimento Imobiliário: por via da procura acrescida de espaços novos e bem acondicionados, por via dos preços acrescidos do stock existente e por via da regulação orientada para finalidades mais “verdes” e sustentáveis. A questão dos custos de energia traz ainda mais força aos centros das cidades, aos edifícios com melhor desempenho energético e que tenham preocupações de minimização dos impactos ambientais. E nesta matéria, a meu ver, Lisboa está na infância deste processo de qualificação. Mas mais vale tarde do que nunca para os promotores portugueses.

Se acrescermos a isto, o Plano de Recuperação e Resiliência português dotado de uma bazuca de centenas de milhões de Euros para o sector Imobiliário, encontraremos razões de sobra para um otimismo que noutras áreas da economia poderão não ser tão evidentes. Com cerca de 15% de peso no PIB português, o sector de Construção e Imobiliário terá certamente um desempenho nos próximos anos que estará acima do desempenho do PIB português e talvez Europeu, contribuindo para que, na ausência de políticas fiscais mais agressivas, haja um contributo para o emprego e para o crescimento dos salários e dos lucros das empresas, que todos ambicionamos para Portugal.

Mais vale tarde do que nunca, os nossos filhos agradecerão não terem de sair do país para encontrarem melhores oportunidades de futuro profissional se este cenário mais risonho se materializar.

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