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EDITORIAL

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João Loureiro
João Loureiro
Conselho Editorial da Ci

PANDEMIA E PRESSÕES INFLACIONISTAS

Em abril de 2021, a taxa de inflação homóloga dos Estados Unidos atingiu 4.2%, um elevado valor que há vários anos não era observado. Em menor escala, também na Área do Euro a taxa de inflação aumentou nos primeiros meses do ano corrente, atingindo 1.6% no mês de abril, convergindo assim para o valor limite estabelecido pelo Banco Central Europeu (que é de 2%).

Embora a evolução recente da inflação possa ser um fenómeno puramente temporário, fruto de fatores que se poderão desvanecer a curto prazo, não deixa de ser uma evolução que deve ser seguida com particular atenção, dado que a sua persistência poderá alterar o rumo das políticas monetárias.

A possibilidade de, num futuro próximo, as taxas de inflação serem pressionadas em alta é um cenário que não pode ser descartado. A combinação de um conjunto de circunstâncias pode, na realidade, alimentar pressões inflacionistas por um período de tempo não antecipável. Tal cenário vê a sua probabilidade aumentada caso a atual situação pandémica seja resolvida não de uma forma prolongada no tempo, mas, antes, num espaço de tempo relativamente curto. Nesse caso, é muito provável que a procura que esteve reprimida pela situação da pandemia se solte subitamente, beneficiando da vontade dos consumidos em voltarem à normalidade, o que, em muitos casos, será alimentado pela poupança forçada derivada das restrições verificadas durante muitos meses na procura e na oferta.

Para além da inflação resultante de pressões do lado da procura, poderemos também observar inflação originada do lado da oferta. De facto, a ocorrência de um excesso de procura de bens e serviços poderá conduzir a um súbito aumento do preço de muitas matérias-primas que, por sua vez, agravarão os custos de produção e, consequentemente, os preços dos bens e serviços de uso final.

Caso o cenário referido venha a ocorrer de forma relativamente persistente, é muito provável que os bancos centrais tenham de reagir com políticas monetárias restritivas. Dependendo da dimensão do ajustamento da política monetária, vários mercados cuja dinâmica nos últimos anos tem sido alimentada pelo excesso de liquidez, a baixo custo, poderão vir a sofrer impactos cuja escala estará dependente da escala da reversão monetária. São vários os mercados em causa, neles se incluindo os mercados acionistas, obrigacionistas e imobiliários.

Seguramente que em Portugal todos desejamos a chegada da recuperação económica e que venha tão breve quanto possível. Mas, ao mesmo tempo, talvez não seja muito oportuna uma recuperação muito acentuada, em particular, se generalizada a toda a Área do Euro. Em tal circunstância poderíamos vir a ter um problema indesejável, que seria a subida das taxas de juro.

Numa economia em que a generalidade dos agentes económicos está muito endividada, incluindo famílias, empresas e Estado, uma subida das taxas de juro poderá ser algo de problemático, tanto para devedores como para credores. Mais grave ainda porque a economia portuguesa se habituou a viver com taxas de juro que são irrealisticamente baixas e que, mais cedo ou mais tarde, acabarão por subir.

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