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EDITORIAL

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Ricardo Guimarães
Ricardo Guimarães
Diretor da Ci

A Europa desconfina nos ciclos de crise

Maio foi o mês do desconfinamento. Tudo agora depende do sucesso dessa nova palavra, claramente mais apelativa e positiva relativamente às antípodas pandemia, vírus, covid, que levaram ao fecho, suspensão, encerramento, confinamento e crise.

São muito elevados os custos que se espera afetem a economia, condicionando-a à escala local, nacional, europeia e mundial. Todas em simultâneo. Não haverá memória de um blackout geral como este.

No caso nacional, sucede num período de grande fulgor económico, em especial nas atividades que relevam para o mercado imobiliário, seja o residencial, turístico ou comercial. O crescimento económico, por um lado, mas, acima de tudo, o reposicionamento de Portugal enquanto espaço de atração do interesse internacional, projetaram o imobiliário como um dos setores mais dinâmicos da nossa economia. De facto, na presente edição da Ci, focada no imobiliário comercial, damos nota dos números impressionantes do take-up de escritórios, apurados com base no LPI – Lisbon Prime Index e, pela primeira vez, no PPI – Porto Prime Index¹. Segundo estes sistemas de informação, a ocupação de espaços de escritórios em ambas as cidades de Lisboa e Porto esteve mais de 40% acima da registada no período homólogo. São números avassaladores, mais ainda se tivermos em conta que 2019 e 2018 foram já anos de máximos históricos (com cerca de 200 mil m² tomados em Lisboa). São avassaladores quando sabemos que nesse quadrimestre 1,5 meses foram de confinamento e mesmo de estado de emergência.

O take-up de escritórios é o espelho direto do pulsar da economia sendo, como referido, alavancado pela crescente capacidade de fixação de empresas internacionais que procuram cidades atrativas para localização dos seus serviços e centros de desenvolvimento. A tão falada “descoberta de Portugal” tem tradução direta nestes mercados, projetando o imobiliário português muito além dos fatores endógenos de crescimento. Mas, se o ponto de partida é promissor, os desafios de futuro são enormes.

Ora, porque prever o futuro, num quadro sem histórico e em que tudo é incerteza, é um exercício inglório, a nossa opção nesta edição da Ci passou pela auscultação do sentimento e expectativas de quem tem mais experiência e informação qualitativa para partilhar. Assim, temos o gosto e honra de contar com a visão dos CEOs das cinco mais relevantes consultoras do mercado, alfabeticamente, a CBRE, CW, JLL, Savills e Worx. Neste exercício, refletiu-se sobre a maior ou menor resiliência atual do país e do mercado para fazer face a crises, quais os setores que podem sair ganhadores e qual o lugar de Portugal na retoma que se espera também desconfine. O consenso vai no sentido de reconhecer as fortes dificuldades que alguns setores irão atravessar. Contudo, ressalta a convicção, baseada no contacto direto com investidores, de que Portugal permanece no radar, on-hold, com as decisões essencialmente dependentes da duração da pandemia.

Mas, como se tem dito, este vírus libertou muitas outras viroses eventualmente mais perigosas. Económicas, laborais, sociais, políticas e… monetárias... Talvez também nestes casos o desconfinamento volte a ser a chave.

Numa análise sobre a estabilidade do Euro, do Prof. João Loureiro, fica a tónica: «mesmo que com o apoio do BCE ao financiamento dos défices orçamentais, os elevados rácios de dívida pública de alguns países (…) dificilmente acomodarão acréscimos relevantes, sem que não surjam perturbações indesejáveis». O desmoronamento da união monetária e, no limite da UE, era um desfecho não impossível, devastador a todos os níveis.

Por isso, o Fundo de Recuperação franco-alemão, desconfinando os limites das políticas e reforçando a visão conjunta Europeia, é já um efeito muito positivo da crise que vivemos, permitindo juntar a palavras “otimismo” e “futuro”. 

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