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EDITORIAL

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Francisco Rocha Antunes
Francisco Rocha Antunes
Conselho Editorial da Ci

O Porto no grande recomeço de 2020

O Porto costuma destacar-se nas alturas de crise profunda e não foi desta vez que foi exceção: a resiliência da cidade e a pronta resposta à crise sanitária foi à medida do seu carácter indómito.

Perante uma pandemia inesperada e violenta que obrigou todos a pararem e a recolherem-se como nunca tinha acontecido a cidade foi capaz de definir as prioridades certas: proteger os mais frágeis, acudir aos mais aflitos, reforçar as capacidades do sistema de saúde e preservar o essencial do funcionamento da cidade. Os serviços públicos, municipais e outros, souberam estar à altura da exigência da situação e os cidadãos sentiram que não estavam isolados neste momento difícil.

O confinamento forçou a generalização das competências digitais e o trabalho e as compras nunca mais vão voltar a ser o que eram até Fevereiro. Ninguém acreditaria que era possível em poucos dias estarmos quase todos a trabalhar remotamente e a ter aulas em casa. Como sempre acontece, esta experiência vai mudar-nos muito mais do que neste momento realizamos.

Apesar do recolhimento as obras não pararam, as empresas continuaram a desenvolver o seu trabalho com uma energia redobrada, as entidades licenciadoras souberam responder aos desafios do trabalho remoto e os processos que já tinham sido iniciados continuaram.

Os desafios imediatos são tremendos.

Uma cidade que encontrou no turismo os recursos que alimentaram a sua reabilitação tem de encontrar formas de sobreviver a uma paragem quase total das viagens. O redimensionamento e a reestruturação de todos os espaços que dependem de turistas serão inevitáveis e dolorosos. A dimensão deste impacto é diretamente proporcional ao tempo de paragem que ainda não terminou.

Felizmente o Porto nunca foi só turismo. É uma cidade do conhecimento e isso atrai muitas empresas que já descobriram a qualidade e a quantidade de talento que temos. As empresas que nos últimos anos aqui se instalaram vão continuar a expandir, e com isso a criar milhares de novos postos de trabalho e a ocupar áreas significativas.

O maior desafio é o de fazermos muito mais casas. Fazermos todas as casas que conseguirmos, de todos os tipos, para vender e arrendar, grandes e pequenas. Sem uma oferta maciça de casas nunca teremos os preços e as rendas que todos podem pagar sem terem de viver permanentemente sufocados com os custos da habitação.

O problema é que para isso acontecer temos de vencer um inimigo pouco conhecido: o egoísmo geracional. A resistência ao aumento de número de novas casas vem de todos os que estão confortavelmente instalados nas suas casas e que decretam que não são precisas mais casas, pelo menos nas imediações das suas. Infelizmente para todos aqueles que não têm casa em condições, e que são cada vez mais, esses resistentes instalados são aqueles que influenciam as decisões políticas. Basta ver quem é que protesta sempre que algum prédio tem mais de quatro andares.

A verdade é que a teoria económica é muito clara: enquanto não formos capazes de fazer muitas casas elas não vão ser acessíveis. Por isso o grande desafio do Porto é mesmo o da habitação. Se nos concentrarmos nisso poderemos criar a atividade económica local para criar produtos que interessam a todos os que querem, mas que tantos não conseguem, morar no Porto.

A atração pelo Porto, não tenho quaisquer dúvidas, vai aumentar ainda mais depois da pandemia.

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