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EDITORIAL

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Ricardo Guimarães
Ricardo Guimarães
Diretor da Ci

O Índice de Preços da “Restante Cidade do Porto” está 17,5% abaixo de 2007

O Centro Histórico do Porto continua a sua trajetória de valorização. Impavidamente,

prossegue o registo em que encarreirou a partir do 2º semestre de 2011. De facto,

o Centro Histórico do Porto foi o primeiro mercado a começar a trajetória que tem

vindo a marcar cada vez mais todo o mercado imobiliário, iniciando a tendência de

valorização quase em paralelo com o arranque do programa de ajustamento imposto

a Portugal.

Esse arranque deve-se acima de tudo a um esforço feito do lado das políticas públicas que protagonizavam no terreno com projetos de reabilitação.

Tais iniciativas, na altura, tinham em perspetiva a atração de famílias para esse território e a sua repovoação. Mas, quem acompanhou esse período sabe que o esforço era enorme, para resultados difíceis de alcançar, sendo muitos os paradoxos desse mercado. Por um lado era marcado por graves problemas de natureza social, assim como por uma flagrante ausência de equipamentos como escolas e creches. Por outro, esse investimento implicava preços finais de venda que já na altura eram de difícil conciliação com o poder de compra de uma cidade fustigada pelo desemprego, mais ainda em plena crise financeira.

A verdade é que somente a partir da segunda metade de 2014 é que o mercado arrancou em definitivo e com um ritmo de valorização sempre a dois dígitos, desta feita já em linha com o comportamento que entretanto se começara a registar em Lisboa. Num caso e noutro,

inquestionavelmente, o processo de valorização e atração de investimento foi totalmente determinado pelo impacto da revolução digital e pela abertura desses territórios à procura turística e de compradores internacionais.

Assim, querendo-se ou não, a verdade é que a chave para a reabilitação destes territórios esteve desalinhada do padrão de mercado do ponto de vista da habitação tradicional, tendo por pilar novas fontes de procura e de criação de valor. É legítimo perguntarmo-nos se sem essa nova orientação do mercado não estaríamos ainda a debater como lançar e finalmente concretizar um desidrato de reabilitação que tardaria a sair do plano das intenções ou que, para sair, dependia fortemente do estímulo das políticas públicas e do seu músculo financeiro. Estas políticas foram importantes no Porto, mas são conhecidas as consequências financeiras para a Sociedade de Reabilitação e como, para prosseguir nessa linha, tinham de ter uma perspetiva de assunção de perda de parte dos valores investidos.

Por tudo isso tem sido essencial a forma como a Câmara Municipal do Porto tem mantido uma linha de total apoio ao investimento, mesmo

que orientado para o turismo. Isso não é sinónimo de abandono do propósito de conciliação do turismo com a conservação da vocação habitacional da cidade, já que, como é sabido, tem sido feita uma política de exercício do direito de preferência precisamente nos casos em que há inquilinos, sendo a mesma direta ou indiretamente financiada pelas taxas cobradas à atividade turística.

O Centro Histórico do Porto faz picos de seis mil euros/m². Se se mantiver a política de conciliação entre turismo e habitação esse pode ser um valor seguro.

Mas isso não significa que toda a cidade tenha (ou sequer deva ter) o mesmo potencial. Por isso, na Ci apuramos o Índice de Preços da “Restante

Cidade” que, talvez sem surpresa, está 17,5% abaixo de 2007, mostrando que há realidades muito diversas e vocações diferentes mesmo dentro de um território tão pequeno como o Porto.

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