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EDITORIAL

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Ricardo Guimarães
Ricardo Guimarães
Diretor da Ci

A expectável travagem do Centro Histórico de Lisboa?

Foi a partir do seu Centro Histórico que a cidade de Lisboa e, nessa sequência, todo o país, alavancou o ciclo de recuperação de mercado registado desde 2013. O ponto de partida era muito baixo. No Centro Histórico em resultado de décadas de total abandono por parte dos investidores e famílias e, no resto do país, enquanto corolário do corte no único pilar em que o mercado assentou, ou seja, o financiamento bancário.

Chegados a 2018, a valorização acumulada no Centro Histórico situa-se nos 100%1 . Os recordes de preço sucederam-se, com o mercado a testar e experimentar novos limites de valor.

De abandonado e esquecido, o Centro Histórico tornou-se cosmopolita, internacional, atraente e o rastilho de um processo económico fundamental para toda a economia nacional, orientado para “as exportações” relacionadas com o turismo.

Este ciclo surpreendeu sobretudo pela rapidez com que sucedeu já que, de facto, daqueles 100%, 75% aconteceram em apenas 2 anos e meio, desde a segunda metade de 2015 ao final de 2017.

O amadurecimento de Lisboa enquanto destino turístico, a consolidação da sua condição de mercado elegível para investimento por parte de internacionais, a diversificação do leque de nacionalidades a fazer aquisições, a afirmação de uma cidade cada vez mais orientada para a atração e fixação de talentos, a qualidade do espaço público, entre outros fatores, são certamente um caso de estudo, pela velocidade com que tudo ocorreu e pela transformação que gerou.

Como numa corrida de 100 metros, no entanto, não seria certamente difícil de imaginar que ocorresse um período de estabilização e de consolidação de expectativas. A sucessão de valorizações homólogas acima de 20%, semestre após semestre, sinalizava uma lógica de crescimento que, necessariamente, teria de abrandar.

Foi talvez isso que aconteceu, ou um pouco mais, tendo a valorização semestral (em cadeia) passado de 14,4% no 1º semestre de 2017 para 0,1% passado um ano.

Eventualmente, talvez esta evolução deva ser lida um pouco para além do “normal ajustamento do mercado”. É de admitir que todo o quadro de alterações legais e de pressupostos de investimento em curso tenha igualmente uma quota-parte relevante na leitura que os operadores fazem do mercado e da sua predisposição para assumir novos projetos. Quando questionados através do Portuguese Housing Market Survey essa é uma das notas consistentemente deixadas pelos mediadores e promotores imobiliários inquiridos, apontando os riscos de incerteza decorrentes da instabilidade associada à sucessão de mudanças e anúncios de mudanças no quadro legal e fiscal.

Os reptos da cidade são extremamente complexos, pois é também evidente que o sucesso trouxe custos sociais que devem ser encarados de frente. Assim, talvez o desafio seja o de conciliar programas, viabilizando a atividade e fazendo da mesma o motor para a resposta social. Mas se Centro Histórico é o farol do mercado, também a partir dele se têm começado a afirmar novos palcos do movimento de requalificação urbana. O surgimento de eixos adicionais é uma consequência da valorização atingida, sendo ao mesmo tempo um processo orgânico de estabilização da pressão sentida. Os dados publicados na presente edição mostram, por exemplo, o caso de Arroios que surge como a segunda freguesia com mais procura internacional, protagonizada por nacionalidades “tradicionais” como os chineses, franceses e britânicos. Assim, o mercado vai certamente encontrar o caminho para o seu ajustamento, assentando em vasos comunicantes entre zonas aquecidas e zonas carentes de reabilitação. Não faltam em Lisboa manchas urbanas para requalificar. O que não pode faltar é a confiança pelo lado dos investidores.

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